Quem desceu ao relvado, quem orientou as estratégias no banco de reservas e quem viveu a tensão nas arquibancadas já sentiu o peso do “Estádio do Medo”. Este termo foi extrapolado da literatura por Jorge Valdano, atribuído às emoções que tomam as equipes adversárias no Estádio Santiago Bernabéu – o lar atormentador do Real Madrid.
O palco de contratempos mais expressivos na história futebolística brasileira, o Maracanã, é o exemplo vivo da proporção do evento ao resultado: a desastrosa derrota brasileira para o Uruguai na Copa do Mundo de 1950 incutiu o histórico “complexo vira-lata”. O mesmo fenômeno marca o palco Estádio da Luz, exacerbando as tensões do futebol português entre o Benfica e FC Porto.
Desde a inauguração da nova Luz e passados 20 anos, o FC Porto se destaca no quadro de vitórias contra o Benfica. Em 23 jogos para todas as provas, o FC Porto saiu vitorioso em 10 ocasiões, contra apenas seis vitórias do Benfica. O saldo de gols confirma a tendência: 24 a 28, favorável aos visitantes. Os benfiquistas atribuem esse desequilíbrio ao persistente “medo cénico”.
Por que o “medo cénico” persiste no Estádio da Luz?
Os fatores por trás desse fenômeno são intrincados e polêmicos. Bruno Aguiar, ex-jogador encarnado e campeão no primeiro ano após a inauguração do novo estádio, aponta para um “bloqueio mental”. Álvaro Magalhães, glória encarnada dos anos 80, realça a organização tática do FC Porto e a mentalidade vencedora que parecem faltar ao seu próprio time.
Vasco Mendonça, adepto do Benfica e colunista de A BOLA, critica a tendência manipulativa do FC Porto em campo, mas também adverte para o peso cultural da partida. Foram propositalmente ignorados os fatores técnicos e táticos, e se concentrou na mentalidade de enfrentar um adversário tradicional.
Os números indicam um bloqueio do Benfica?
Os números são frios, mas ilustram a gravidade da questão. Para além dos 23 jogos disputados entre Benfica e FC Porto e os respectivos resultados, os números têm outra história para contar ao serem confrontados com os do estádio do FC Porto, o Dragão.
De 20 partidas disputadas no território do oponente, os encarnados venceram apenas cinco, empataram sete e perderam 12, com um saldo de gols ainda mais agravante: 23 para o Benfica contra 37 para os Portistas. Esta estatística desconcertante comprova que o Benfica exibe praticamente a mesma performance em casa e como visitante.
O que o futuro reserva para o Benfica?
Embora os desafios sejam grandes, há esperança de melhoria. Vários membros da comunidade futebolística acreditam que com uma mudança de mentalidade e um reforço da agressividade positiva, o Benfica será capaz de reformular o padrão estabelecido.
Além disso, a crença é de que a fase ruim é transitória e que o Benfica tem os recursos para superar esses desafios. Neste contexto, a próxima partida contra o FC Porto na Luz será crucial para determinar o futuro das águias.