Copa do Mundo de 1966: O Mundial dos ingleses e do vexame brasileiro

Depois de muita relutância para participar da Copa do Mundo, a Inglaterra finalmente foi escolhida como país sede para o evento esportivo. O Mundial de 1966 marcou a primeira e única incursão do Mundial a Terra da Rainha até os dias de hoje, sendo lembrada pelo campeão inédito e por polêmicas fora das quatro linhas.

O fato é que desde que teve sua primeira edição em 1930, a Copa do Mundo não parava de crescer. Na década de 1960, não apenas o Mundial já estava consolidado como um dos principais eventos esportivos do mundo como o futebol, de uma maneira geral, já era bem visto ao redor do globo.

Todo esse clima, juntamente com o distanciamento da Guerra Mundial, favoreceram para a realização da Copa do Mundo de 1966. Mas isso não significa que o Mundial foi tranquilo – muito pelo contrário. Antes mesmo de sua realização já haviam polêmicas e casos inusitados envolvendo a competição.

O caminho até a Copa do Mundo de 1966

Após uma última edição na America do Sul, a Copa do Mundo estava de volta à Europa. A escolha da Inglaterra como país sede para o Mundial havia sido feita com antecedência, e contava com a vantagem de um cenário futebolístico já consolidado na região – tida como a terra do futebol.

A Inglaterra, naquela altura, já contava com alguns dos principais clubes de futebol do mundo. A Liga Inglesa, apesar de não ter o nível que tem nos dias de hoje, já era considerada forte e robusta. Com isso, havia toda a estrutura de bons estádios espalhados pelo país.

No entanto, antes mesmo da realização do evento, uma polêmica foi instaurada: o roubo da taça do torneio, a Jules Rimet. O troféu havia sido roubado de uma vitrine em Londres, e a Federação Inglesa estava contando até mesmo com a necessidade de usar uma réplica. Felizmente, um cachorro chamado Pickles encontrou a taça durante uma verdadeira caçada pela premiação.

Além disso, outra polêmica, dessa vez envolvendo a própria Federação Internacional de Futebol (FIFA) colocou em cheque os classificados para a Copa do Mundo de 1966. Os países da África boicotaram o evento, em função do sistema imposto pela organização em que os campeões do continente teriam que enfrentar o vencedor da Ásia ou Oceania para, então, avançar para o Mundial.

Sendo assim, as Eliminatórias da Copa do Mundo foram realizadas com dissonâncias. Ainda assim, com um novo recorde de inscritos.

Resultados das Eliminatórias da Copa do Mundo de 1966

A Copa do Mundo de 1966 contou com um novo recorde de países inscritos. Ao todo, 70 seleções se inscreveram para participar do Mundial. A partir daí, ocorreu uma nova edição das Eliminatórias, com 16 nações africanas boicotando a FIFA e ficando de fora de mais uma edição do evento.

Dentre os europeus, destaque para Portugal que conseguiu a primeira classificação da sua história, tendo em sua chave a vice-campeã da Copa do Mundo Tchecoslováquia. Já na Ásia, a surpresa ficou com a Coreia do Norte, se classificando e batendo equipes mais “tradicionais” do continente, como Japão e Coréia do Sul.

Na América do Sul, nenhuma surpresa: para além do Brasil, que já estava classificado graças ao título da edição anterior da Copa do Mundo, se classificaram também Argentina, Uruguai e Chile. Por fim, as Eliminatórias definiram os países participantes do Mundial de 1966, sendo eles:

  • América Central e do Norte – México
  • América do SUl – Argentina, Brasil, Chile e Uruguai
  • Ásia: Coréia do Norte
  • Europa: Alemanha Ocidental, Bulgária, Espanha, França, Hungria, Inglaterra, Itália, Portugal, Suíça e União Soviética.

Os grupos e resultados da Copa do Mundo de 1966

A Copa do Mundo de 1966 funcionou com o esquema padrão de grupos e classificados, o qual viria a passar por uma leve alteração em edições futuras. Naquela época, o Mundial funcionava com base em 16 equipes, as quais se dividiam em quatro grupos de 4 seleções, em que as duas primeiras se classificavam para as quartas de final, semis e final. Os grupos do Mundial daquele ano foram:

Grupo 1: Inglaterra, Uruguai, México e França;
Grupo 2: Alemanha Ocidental, Argentina, Espanha e Suíça;
Grupo 3: Portugal, Hungria, Brasil e Bulgária;
Grupo 4: União Soviética, Coréia do Norte, Itália e Chile.

Os resultados da Copa foram os seguintes:

Grupo 1

Inglaterra 0 x 0 Uruguai
França 1 x 1 México
Uruguai 2 x 1 França
Inglaterra 2 x 0 México
Uruguai 0 x 0 México
Inglaterra 2 x 0 França

Grupo 2

Alemanha Ocidental 5 x 0 Suíça
Argentina 2 x 1 Espanha
Espanha 2 x 1 Suíça
Alemanha Ocidental 0 x 0 Argentina
Argentina 2 x 0 Suíça
Alemanha Ocidental 2 x 1 Espanha

Grupo 3

Brasil 2 x 0 Bulgária
Portugal 3 x 1 Hungria
Hungria 3 x 1 Brasil
Portugal 3 x 0 Bulgária
Portugal 3 x 1 Brasil
Hungria 3 x 1 Bulgária

Grupo 4

União Soviética 3 x 0 Coréia do Norte
Itália 2 x 0 Chile
Coréia do Norte 1 x 1 Chile
União Soviética 1 x 0 Itália
Coréia do Norte 1 x 0 Itália
União Soviética 2 x 1 Chile

Quartas de Final

Alemanha Ocidental 4 x 0 Uruguai
Inglaterra 1 x 0 Argentina
Portugal 5 x 3 Coréia do Norte
União Soviética 2 x 1 Hungria

Semifinais

Alemanha Ocidental 2 x 1 União Soviética
Inglaterra 2 x 1 Portugal

Terceiro Lugar

Portugal 2 x 1 União Soviética

Final

Inglaterra 4 x 2 Alemanha Ocidental

O Brasil na Copa do Mundo de 1966

Depois de conseguir o bicampeonato mundial, a seleção brasileira chegou a Copa do Mundo de 1966 como favorita ao título. O técnico Aymoré Moreira foi o escolhido para treinar o Brasil novamente no Mundial, visando a manutenção do elenco. Mas uma série de resultados negativos em amistosos em 1963 acabou abalando.

Na Europa, o Brasil perdeu em amistosos para Portugal, por 1 x 0, e para a Bélgica, por 5 x 1. Os péssimos resultados fizeram com que o treinador se questionasse sobre quem seriam os convocados para a Copa do Mundo de 1966, visto que o mesmo elenco de 1962 não mostrou efetividade nos jogos amigáveis em 1963.

A pressão foi tanta que o treinador chegou a convocar 47 jogadores na fase de preparação da seleção brasileira para a Copa do Mundo. Os 22 atletas que representaram o Brasil naquela edição do Mundial, inclusive, só foram conhecidos na véspera do evento. Os problemas fizeram com que a seleção canarinha fosse de favorita e decepção absoluta em pouco tempo.

O elenco ainda tinha alguns nomes conhecidos da Copa anterior, como Djalma Santos, do Palmeiras; Pelé, do Santos; Bellini, do São Paulo; e Garrincha, agora no Corinthians. No entanto, não foi suficiente para evitar o vexame: uma vitória e duas derrotas na fase de grupos, com queda precoce ainda na etapa inicial da competição.

Artilheiros e curiosidades da Copa do Mundo de 1966

A Copa do Mundo de 1966 foi marcada por alguns ineditismos, a começar pelo primeiro (e único até então) título da Inglaterra. A terra da rainha se consagrou campeã em casa, em uma final polêmica em que o terceiro gol validado pelo juiz, na verdade, bateu no travessão e quicou em cima da linha.

Além disso, a Copa do Mundo daquele ano também foi marcada pela transmissão televisionada ao vivo das partidas para 20 países da Europa, por meio da Eurovision. A Televisa, do México, também pretendia fazer isso com a América Latina, mas não pôde em função de não existir satélites que conectassem os continentes.

Aquele Mundial teve como artilheiro o português Eusébio, um dos grandes ídolos da História do Real Madrid, com 9 gols. O jogador fazia parte de uma incrível geração portuguesa que começava a despontar para o futebol mundial e que, em sua primeira participação em uma Copa do Mundo, chegou nas semifinais.

O goleiro mexicano Carbajal quebrou um recorde ao disputar, na edição de 1966, a sua quinta Copa do Mundo. O feito nunca foi superado, apenas igualado, em 1998, na Copa da França, pelo alemão Matthäus.

Na Copa do Mundo de 1966, houveram boatos de que a Coréia do Norte estaria enganando todas as seleções, justamente por não contar com fiscalização da FIFA. Diz a lenda de que os coreanos jogaram o primeiro tempo da partida com 11 jogadores e, na etapa seguinte, trocavam completamente o elenco – o que não era percebido pelas semelhanças entre si.