Copa do Mundo de 1962: Brasil bicampeão Mundial e a um passo de virar o país do futebol

Depois de ter suas duas últimas edições realizadas na Europa, a Copa do Mundo de 1962 finalmente voltou à América do Sul. Brasil e Uruguai já haviam sido palco do evento esportivo no continente, então estavam de fora da disputa recente. Por fim, o selecionado acabou sendo o Chile.

A definição do Chile como país sede da Copa do Mundo de 1962 ocorreu seis anos antes, durante o congresso da Federação Internacional de Futebol (FIFA) em Lisboa, Portugal. A partir daí, o país começou a se preparar para montar uma estrutura consistente o suficiente para sediar o maior evento esportivo do mundo.

No entanto, um evento específico quase ameaçou o Chile de ser o palco da Copa do Mundo de 1962. Um desastre natural deixou milhares de mortos no país que, apesar das dificuldades, seguiu firme na missão de sediar o evento e trazer o futebol internacional de volta para a América Latina.

O caminho percorrido até a Copa do Mundo de 1962

Logo após ter sido escolhido para sediar a Copa do Mundo de 1962, o Chile iniciou a restauração e construção de estádios. Os trabalhos de preparação e consolidação da estrutura do país para o evento foram liderados pelo brasileiro naturalizado chileno Carlos Dittborn, que na época era presidente da Confederação Sul Americana de Futebol.

Uma das maiores mudanças preparatórias para o evento foi a ampliação do estádio Nacional, casa do Universidad de Chile, que passou a comportar 75 mil pessoas. Além disso, foi construído também um novo estádio, o Viña Del Mar, mais conhecido como Saulsalito, que fica na beira de um belíssimo lago.

No entanto, enquanto as obras de preparação para a Copa estavam no auge, houve um terremoto de 9.5 na escala Richter, um dos maiores da história recente. A tragédia colocou o Chile em uma situação extremamente delicada: mais de 5 mil mortos e 25 por cento da população desabrigada. Começou-se, então, a se questionar se o país realmente teria condições de sediar o evento.

Carlos Dittborn, no entanto, assumiu a responsabilidade do evento para si e pronunciou uma frase que ficou marcada na Copa do Mundo daquele ano: “porque não temos nada, faremos tudo”. A FIFA, então, concedeu a ele um voto de confiança e as obras foram terminadas rapidamente antes da realização do evento.

Infelizmente, Carlos acabou falecendo pouco mais de um mês antes do início da Copa do Mundo de 1962. Em sua homenagem, foi batizado o estádio de Arica.

O resultado das Eliminatórias da Copa do Mundo de 1962

Afastadas as incertezas da sede da Copa do Mundo de 1962, cinquenta e seis países se inscreveram para as Eliminatórias. Assim como vinha sendo realizado nos anos anteriores, apenas 14 das 16 vagas do evento estavam disponíveis, uma vez que o Chile, país sede, e o Brasil, último campeão, se classificaram automaticamente.

Acontece que, mais uma vez, o funcionamento das Eliminatórias acabou sendo confuso, ameaçando a participação de confederações consideradas mais fracas. Os representantes da CONCACAF (América do Norte, Central e Caribe), CAF (África) e AFC (Ásia) tiveram que entrar para a repescagem contra seleções não classificadas da Europa e da América do Sul.

Esse sistema, obviamente, acabou prejudicando essas confederações, fazendo até mesmo com que os africanos e asiáticos ficassem de fora da Copa do Mundo de 1962. Somente a América do Norte, por fim, acabou tendo um representante naquele Mundial de Seleções: o México. Por fim, os classificados foram os seguintes:

  • América do Norte: México;
  • América do Sul: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e Uruguai;
  • Europa: Alemanha Ocidental, Bulgária, Espanha, Hungria, Inglaterra, Itália, Iugoslávia, Suíça,
  • Tchecoslováquia e União Soviética.

Os grupos e resultados da Copa do Mundo de 1962

Para a Copa do Mundo de 1962, o esquema que havia sido retomado na edição anterior finalmente voltou a se consolidar. Trata-se de um sistema de partidas igual ao que temos atualmente, mas com o diferencial de contar com menos times. Sendo assim, em cada grupo as seleções se enfrentam, as duas primeiras avançam para as quartas e começa o mata-mata. Naquele ano, os grupos foram os seguintes:

  • Grupo 1: União Soviética, Iugoslávia, Uruguai e Colômbia;
  • Grupo 2: Alemanha Ocidental, Chile, Itália e Suíça;
  • Grupo 3: Brasil, Tchecoslováquia, México e Espanha;
  • Grupo 4: Hungria, Inglaterra, Argentina e Bulgária.

Os resultados da fase de grupos foram os seguintes:

Grupo 1

Uruguai 2 x 1 Colômbia
União Soviética 2 x 0 Iugoslávia
Iugoslávia 3 x 1 Uruguai
União Soviética 4 x 4 Colômbia
União Soviética 2 x 1 Uruguai
Iugoslávia 5 x 0 Colômbia

Grupo 2

Chile 3 x 1 Suíça
Alemanha Ocidental 0 x 0 Itália
Chile 2 x 0 Itália
Alemanha Ocidental 2 x 1 Suíça
Alemanha Ocidental 2 x 0 Chile
Itália 3 x 0 Suíça

Grupo 3

Brasil 2 x 0 México
Tchecoslováquia 1 x 0 Espanha
Brasil 0 x 0 Tchecoslováquia
Espanha 1 x 0 México
Brasil 2 x 1 Espanha
México 3 x 1 Tchecoslováquia

Grupo 4

Argentina 1 x 0 Bulgária
Hungria 2 x 1 Inglaterra
Inglaterra 3 x 1 Argentina
Hungria 6 x 1 Bulgária
Hungria 0 x 0 Argentina
Inglaterra 0 x 0 Bulgária

Quartas de Final

Brasil 3 x 1 Inglaterra
Chile 2 x 1 União Soviética
Iugoslávia 1 x 0 Alemanha Ocidental

Semifinais

Brasil 4 x 2 Chile
Tchecoslováquia 3 x 1 Iugoslávia

Terceiro Lugar

Chile 1 x 0 Iugoslávia

Final

Brasil 3 x 1 Tchecoslováquia

A campanha do Brasil na Copa do Mundo de 1962

Aos poucos, o Brasil vinha confirmando o porquê do apelido que ganharia anos mais tarde: o país do futebol. A geração Pelé, Garrincha e companhia se destacavam não apenas como uma das mais vitoriosas da Copa do Mundo, mas também como a detentora de um dos mais bonitos futebol entre seleções de todos os tempos.

A campanha do título começa já na manutenção do elenco: os convocados que foram campeões da Copa do Mundo de 1962 eram praticamente os mesmos que haviam vencido o Mundial em 1958. Pelé, que antes era estreante, agora já era a estrela do time ao lado de Garrincha, do Botafogo, Djalma Santos, do Palmeiras, Bellini, do São Paulo e por aí vai.

No entanto, o que podia ser a Copa de Pelé, acabou não sendo. Apesar da vitória da seleção, o melhor da história se lesionou no segundo jogo do Mundial, na partida contra a Tchecoslováquia, e acabou ficando de fora de todo o torneio. Ainda assim, o Brasil deu conta do recado: e muito bem.

Duas vitórias e um empate na fase de grupos; 3 x 1 na Inglaterra nas quartas, 4 x 2 no Chile nas semis e final decidida em 3 x 1 contra a Tchecoslováquia. A qualidade individual da seleção, assim como o entrosamento de uma equipe que jogava junto já há anos, permitiu que o Brasil fosse bicampeão na Copa do Mundo de 1962 – e começasse a se transformar no verdadeiro país do futebol.

Artilheiros e curiosidades da Copa do Mundo de 1962

Diferente das últimas edições, a Copa do Mundo de 1962 não teve goleadas absurdas – e isso fez com que os artilheiros tivessem uma média bastante comum. A artilharia do campeonato foi dividida entre seis jogadores: Albert, da Hungria; Garrincha e Vavá, do Brasil; Jerkovic, da Iugoslávia; Leonel Sanchez, do Chile; e Valentin Ivanov, da União Soviética, todos com quatro gols cada.

A Copa do Mundo de 1962 foi vista pelos brasileiros por meio de vídeo tape. Finalmente o Brasil poderia ver imagens de sua conquista. As fitas vinham do Chile de avião e eram exibidas dois dias depois das partidas da seleção brasileira.

Se a água batizada da Argentina viria a fazer mal mais tarde, em 1962 já havia o medo de sabotagem por parte dos brasileiros. Na semifinal contra o Chile, os jogadores foram comprar salame, mortadela, queijo e pão para almoçar sanduíches na hora do almoço, com medo de que a comida do hotel chileno pudesse estar adulterada.