O Rei do Rio: o ano em que Romário, Túlio, Renato e Bigode brigaram pelo título de realeza
O futebol brasileiro provavelmente teve o seu auge, em termos de competitividade e entretenimento, nos anos 1990. Foi nessa década em que, já livre do regime militar, jogadores permitiram se soltarem mais, craques optaram por permanecer aqui e polêmicas começaram a surgir. E também foi nesse período em que Romário, Túlio, Renato Gaúcho e Valdir Bigode brigaram pelo título de Rei do Rio.
Diferentemente dos dias de hoje, na década de 1990 os times brasileiros ainda conseguiam manter os craques em seus elencos. O futebol do Brasil era visto como atrativo para a grande maioria daqueles nascidos aqui, o que fazia com que não perdêssemos tantos talentos para a Europa, por exemplo.
E foi justamente assim que, em uma mesma década, tivemos jogadores extraordinários atuando em clubes brasileiros. Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo, Raí, Roberto Carlos, Romário, Túlio Maravilha, Valdir Bigode, Renato Gaúcho, Alex e tantos outros, considerados verdadeiros craques, passaram anos e anos por aqui.
Isso fez com que o futebol brasileiro da década de 1990 fosse extremamente disputado. Temos pelo menos cinco ou seis times extraordinários nesse período. Mas somente quatro jogadores, de quatro times cariocas diferentes, verdadeiramente brigaram pelo título de Rei do Rio. Conheça um pouco mais da história.
O que foi o Rei do Rio?
No ano de 1995 a imprensa do Rio de Janeiro decidiu organizar uma premiação. Pela primeira vez na história, um jogador de Flamengo, Fluminense, Botafogo ou Vasco receberia o título de Rei do Rio. Para fazer parte da realeza, no entanto, eles precisariam ter o melhor desempenho do Campeonato Carioca daquele ano.
A disputa estava centrada em quatro jogadores, de personalidade extremamente forte, e que até hoje são lembrados pelos clubes onde passaram. Foram eles: Romário (Flamengo), Túlio Maravilha (Botafogo), Valdir Bigode (Vasco) e Renato Gaúcho (Fluminense). Os atletas queriam a coroa, mas, para isso, tinham que passar por cima um dos outros.
Vale lembrar que, na época, já se discutia internamente quem seria o melhor jogador do Rio de Janeiro. Romário, Túlio e Renato Gaúcho eram considerados verdadeiros craques. O fato dos três serem extremamente provocativos, também fez com que essa competição fosse marcada por cenas inesquecíveis.
A imprensa ajudou a incendiar essa disputa para além dos gramados. Eram muitas as provocações. As torcidas provocavam cantando na hora dos jogos, e os jogadores fora das quatro linhas. Em um episódio específico, Renato chegou a ir até a frente da casa de Romário para “procurar” o Baixinho – que estava “sumido” do jogo.
Dito isso, conheça o desempenho dos jogadores naquele ano:
Valdir Bigode
Cria da base das categorias de base do Vasco, Valdir Bigode chegou a 1995 já com três anos de experiência no time principal do Gigante da Colina. Mais do que isso, foram três anos com uma média de gols bastante interessante para a sua idade: 11, 16 e 22 em sequência, para ser mais exato.
Sendo assim, a expectativa para o ano de 1995 era grande. No primeiro turno da competição, o Vasco terminou invicto na primeira colocação, com cinco vitórias e apenas dois empates em sete jogos. No entanto, acabou caindo na reta final do Campeonato Carioca, e se despedindo do torneio.
O jogador terminou aquela edição do Carioca com 11 gols, sendo o terceiro que menos marcou gols dos quatro que brigavam pelo título de Rei do Rio. Em toda a temporada, no entanto, o saldo foi bem mais positivo para o atacante do Vasco: 34 gols em 56 jogos. A coroa, no entanto, ficou para outro.
Túlio Maravilha
O ano de 1995 foi sem sombra de dúvidas o melhor da carreira de Túlio Maravilha. O jogador, conhecido pelo instinto de artilheiro e pela personalidade forte e provocadora, cansou de marcar gols naquele ano. Muitos deles (mas muitos mesmo), inclusive, foram no Campeonato Carioca.
Entre uma provocação e outra, Túlio Maravilha fez nada mais nada menos do que 27 gols no Campeonato Carioca de 1995. Foi artilheiro isolado daquela competição, e se valeu disso em todos os confrontos possíveis. No entanto, acabou não levando o título para casa por um motivo em específico: não ganhou o Campeonato Carioca.
O Botafogo acabou não chegando nem na final da competição, o que dificultou a briga pelo título de Rei do Rio de Janeiro. Ao término daquela temporada, no entanto, o clube acabou ganhando o Campeonato Brasileiro. Túlio, por sua vez, terminou o ano com nada mais nada menos do que 50 gols marcados.
Romário
Romário talvez seja o jogador ideal para ilustrar o quão diferenciado era o futebol brasileiro na década de 1990. O jogador, que surgiu e se consagrou no Vasco nos anos 80, estava há mais ou menos sete temporadas no futebol europeu (entre PSV e Barcelona) antes de retornar ao Brasil, em 1995.
Um ano antes de voltar ao Brasil, inclusive, ele foi campeão da Copa do Mundo com a Seleção Brasileira. Na época, já estava acertado com o rubro-negro. Romário chegou em 1995, então, cheio de fôlego, gás, e com um título inédito e a mais para disputar: o de Rei do Rio de Janeiro.
O jogador foi sublime e fez uma das melhores campanhas da competição naquele ano. Marcou 23 gols no Campeonato Carioca e chegou até a final, contra o Fluminense. Acontece que acabou derrotado no último jogo – e, de quebra, com um gol antológico de seu principal adversário, que acabou lhe tirando o título do estadual e da realeza.
Renato Gaúcho
Renato Gaúcho era, de longe, o atleta mais experiente do elenco do Fluminense em 1995. O jogador, que havia brilhado com a camisa do Grêmio e do Flamengo no passado, já estava indo para os seus últimos anos de carreira. Ainda assim, estava em excelente forma e cheio de lenha para queimar – e com muita lábia para provocar.
1995, no entanto, esteve longe de ser o ano mais artilheiro do jogador. Renato Gaúcho marcou apenas cinco gols ao longo de todo aquele Campeonato Carioca. Mas, sem sombra de dúvidas, era o que mais contribuía para a atmosfera de provocação criada após a disputa pelo título de Rei do Rio.
No fim das contas, Fluminense e Flamengo chegaram à final do Campeonato Carioca de 1995. Renato Gaúcho e Romário, que tanto haviam se provocado até ali, finalmente iriam definir quem seria campeão do estado e, também, eleito Rei do Rio pela imprensa do Rio de Janeiro.
Renato, que por sua vez pouco brilhou naquele ano, deixou para brilhar ao máximo no dia da decisão. Foi ele quem abriu o placar do jogo com um inesquecível gol de barriga, lembrado até hoje por torcedores de ambos os lados. Romário também marcou naquele jogo, mas acabou sendo ofuscado pelo resultado.
3 a 2 para o Fluminense, que se consagrou campeão do Campeonato Carioca de 1995. Renato Gaúcho, então, foi eleito pela imprensa como o Rei do Rio de Janeiro. Para isso, inclusive, chegou a vestir a roupa real um dia após o título. Ele afirma, inclusive, que estava tão embriagado de comemorações na ocasião, que mal se lembra do fato.