Pouca gente sabe, mas o Criciúma foi um dos primeiros times do Brasil a ter dono, ou pelo menos uma espécie de proprietário. Em dezembro de 2015, o empresário Jaime Dal Farra, dono de empresa fabricante de tintas, assumiu a presidência do clube carvoeiro. Ele seguiu no cargo durante alguns anos e irritou a torcida.
Anteriormente, o empresário dono da rede Angeloni Supermercados, Antenor Angeloni, era presidente do Criciúma desde 2010 e em novembro de 2011 foi reeleito, para um mandato de nada menos do que 10 anos. Ele também era proprietário da GA (Gestão de Ativos), empresa que a partir de março de 2012 firmou contrato para administrar os investimentos e receitas do Tigre.
Angeloni virou presidente do Criciúma no começo de 2010, pegando um time endividado e que havia ido mal na Série C do ano anterior. Ele fez uma grande gestão, levando o Carvoeiro para a Série A do Brasileirão, onde ficou em 2013 e 2014, conquistando o Catarinense no ano da Copa do Mundo do Brasil. O mandarário já havia presidido o clube em 1963, de 1978 a 1980, quando o time deixou de ser Comerciário EC e virou Criciúma EC e em 1984, até voltar em 2010.
No fim de 2015, embora ainda tivesse anos de presidência pela frente, Antenor Angeloni vendeu a GA para Jaime Dal Farra, que passou a ser presidente do clube. Conforme o Blog do Gilberto Custódio, a venda foi realizada por R$ 14 milhões. Assim, Dal Farra passou a ser o novo chefão do Tricolor. Em dezembro de 2018, foi reeleito para mandato que iria até o fim de 2021.
“Sem dúvida é o momento mais importante da minha vida. É um grande desafio que a gente aceitou, de tocar o Criciúma, de muita responsabilidade. Estou muito feliz, porque adoro futebol, gosto e vivi o futebol já no clube. Para mim é o desafio que a gente precisa trabalhar ficando, agora aprovado, por mais seis anos”, disse ele Dal Farra, ao site do clube em 2015 após ser empossado.
Como foi o mandato de Dal Farra no Criciúma?
Quando comprou a GA, o contrato entre a empresa administradora e o Criciúma iria até março de 2022. Os primeiros anos foram tranquilos, o clube se manteve na Série B e costumava ir longe no Catarinense, embora não tenha ficado com nenhum título estadual. Em 2016 o Tigre terminou em 8º lugar na segundona, campanha melhor do que havia feito em 2015, após cair da elite.
Nos dois anos seguintes brigou na parte debaixo da tabela. Em 2017, acabou em 13º lugar, era uma época que poucos torcedores iam ao estádio, cerca de 2.800 segundo a direção, então Dal Farra liberou 4.000 ingressos para torcedores do Internacional no jogo pela Série B, muito mais que os 1.924 exigidos pela carga de 10% para os visitantes. Essa decisão pegou mal com a torcida e o clima azedou.
O Criciúma não melhorou em 2018 e desceu mais um degrau, acabando a Série B em 14º lugar. Se já estava ruim, em 2019 ficou pior e o time caiu para a Série C do Brasileirão. Os carvoeiros somaram 39 pontos e acabaram em 19º lugar, contra 41 pontos dos primeiros times fora do Z4, o Figueirense e o Oeste. Londrina, São Bento e Vila Nova, os outros que caíram, todos fizeram 39 pontos.
Estaduais: Em 2016, o time terminou o estadual em terceiro lugar e em 2017 repetiu a campanha, de novo ficando com o bronze e longe da final. Em 2018, piorou e acabou em quarto lugar, atrás do Tubarão, também do sul do estado. O regulamento mudou em 2019, o Tigre chegou na semifinal e perdeu para o Avaí nos pênaltis, novamente acabando em quarto. Em 2020, já no clima de despedida do presidente, o Tricolor chegou nas semifinais e caiu nos pênaltis para a Chapecoense.
Copa do Brasil: Em 2016 perdeu logo na primeira fase para o Operário Ferroviário, derrotado na soma dos dois jogos por 3×2. No ano seguinte, passou pelo Santo André e pelo Altos, caindo para o Fluminense por 4×3 na soma dos jogos. Em 2018, eliminou o São Caetano e decepiconou a torcida em casa ao cair nos pênaltis para o Cianorte. Em 2019, eliminou São Raimundo e Oeste, parando na Chapecoense. E em 2020, caiu na estreia por 4×1 para o Santo André.
Criciúma deixou de ter “dono” em 2021
No dia 10 de março de 2019, durante derrota para a Chapecoense por 1×0, em casa, um grupo de torcedores foi protestar em frente ao camarote onde estava o presidente. A manifestação foi abafada com o hino do clube, que tocou forte com bola rolando nos alto falantes do Heriberto Hülse. Foi um dos principais momentos da gestão e causou revolta na torcida.
Embora o contrato da GA com o Criciúma seguisse até março de 2022, Jaime Dal Farra não aguentou o rebaixamento para a Série C e as críticas que sofria da torcida e decidiu sair do cargo. Ele entregou a carta de renúncia em maio de 2020, dizendo que deixaria o clube no fim daquele ano. A notícia foi comemorada por torcedores carvoeiros.
Já na Terceira Divisão de 2020, o Tigre brigou para não cair até o fim e terminou a primeira fase em oitavo lugar, 2 pontos acima do rebaixado São Bento. Na época, o chefão revelou que o Criciúma devia R$ 10 milhões para a GA, valor que poderia ser pago com a venda de jogadores ou o presidente assumiria a conta, sem tirar do caixa do clube.
“Temos um planejamento já aprovado, com orçamento, recursos, sejam da GA ou do clube, como os sócios. Um comitê de transição será bem vindo aquando o Conselho do clube achar adequado. Temos uma equipe de trabalho competente e esse plano será seguido com o objetivo de fazer um belo trabalho nas quartas de final do Catarinense e buscar o acesso no Brasileiro”, disse Jaime em coletiva.
Após o fim da parceria, o clube ficou devendo R$ 8,1 milhões para a GA. Assim, a empresa seguiu como detentora dos direitos econômicos dos atletas até 18 de março de 2022, que seria o prazo caso não houvesse o rompimento. Conforme o advogado do clube naquele período, Edemar Soratto, em entrevista ao portal 4oito, a dívida seria perdoada após esta data, o que acabou acontecendo.
“Então iaginamos o seguinte: A GA tem o Nino no Fluminense, que vende o jogador para o exterior e entra R$ 5 milhões para a GA. Esses R$ 5 milhões entram na conta do Criciúma, que repassa para a GA e vai baixar os R$ 5 milhões daqui. Caso o Reinaldo vá para o Athletico-PR, se entrar mais R$ 1 milhão vamos baixar mais R$ 1 milhão desses R$ 8 milhões e repassar para a GA”, disse o advogado.
O Fluminense não vendeu Nino e o Furacão comprou Reinaldo, mas em outubro e a GA não ficou com a grana. Jaime deixou o comando do Tigre no fim de 2020 como prometido e em primeiro de janeiro de 2021, o empresário Anselmo Freitas assumiu o cargo. Ele pegou um time arruinado, sem jogadores, o que resultou em rebaixamento no estadual. Mas, com um pacotão de reforços e distribuindo bicho em dinheiro após vitórias, tirou a equipe da Série C e conquistou o acesso para a segundona.
Após a quebra do contrato, a GA deixou o Criciúma, que parou de ter um “dono”. Essa saída da empresa e de Dal Farra contribuiu para o retorno dos carvoeiros ao estádio, principalmente a partir de 2022, com o fim da pandemia e a volta para a Série B. Em 2023, o clube atingiu cerca de 18 mil sócios, esgotando a capacidade do estádio.