Os Estados Unidos estão longe de ser a maior referência mundial no futebol. Na Terra do Tio Sam, onde basquete e beisebol são muito mais populares, o esporte é chamado até mesmo de uma outra maneira: soccer. Acontece que nada disso importou durante a realização da Copa do Mundo de 1994, que foi um verdadeiro sucesso.
A Copa do Mundo de 1994 é lembrada até os dias de hoje como uma das mais bem sucedidas de todos os tempos. Apesar de ter sido realizada em um país com pouca, para não dizer nenhuma, tradição no futebol, atraiu verdadeiras multidões para os estádios, a ponto de ter a maior média de público da história dos Mundiais.
Ao contrário do que havia sido visto na edição anterior da Copa do Mundo, em 1994 o futebol jogado dentro de campo foi muito mais encantador. Um dos motivos para isso, obviamente, foi a própria seleção brasileira, que chegou muito mais preparada, bem treinada e letal para conquistar o quarto Mundial da sua história.
Fora de campo, no entanto, aquele Mundial foi marcado por questões não tão boas. Com exceção da alegria do público, que compareceu em peso em praticamente todas as partidas, o que se viu fora das quatro linhas foi uma tragédia envolvendo um jogador colombiano; a dispensa de um craque argentino pego no antidoping e um pênalti.
O caminho percorrido até a Copa do Mundo de 1994
Como já citado anteriormente, os Estados Unidos não são nem de perto os maiores apreciadores do futebol no mundo. Ainda assim, conseguiram vencer uma disputa para sediar um torneio esportivo que, na época, já vinha sendo encarado por muitos como o maior de todos – até mesmo do que as Olimpíadas.
Em fevereiro de 1987, menos de um ano após o fim do Mundial do México, a U.S Soccer informou a Federação Internacional de Futebol (FIFA) que tinha o interesse de sediar a Copa do Mundo de 1994. Afinal de contas, seguindo o rodízio previsto pela própria Federação, a América muito provavelmente seria o destino do evento.
Acontece que os Estados Unidos não entraram sozinhos nessa jogada, como já era de se esperar. Na América do Sul, Brasil e Chile também demonstraram interesse em sediar a Copa do Mundo de 1994. Até mesmo o Marrocos, da África, se colocou à disposição para ser o anfitrião da competição.
O então presidente norte-americano Ronald Reagan, com a autorização do Senado dos EUA, assinou uma carta e a enviou à FIFA, afirmando que o governo estadunidense apoiava a realização do evento. Foi então que em 4 de julho de 1988, o dia da independência nos Estados Unidos, a Federação anunciou que os americanos seriam os anfitriões da Copa do Mundo de 1994.
O resultado das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1994
O fato é que a Copa do Mundo de 1994 não foi somente um sucesso absoluto de público, mas também de inscrições. Àquela altura, o Mundial de seleções já estava muito bem consolidado e era visto com bons olhos por todos. No entanto, ninguém imaginava o quão atrativo acabou sendo em termos de inscrições.
Ao todo, 144 países se inscreveram para participar das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1994, um recorde absoluto. Muito provavelmente, não apenas o auge do esporte a nível internacional contribuiu para esse desejo, mas também a “acessibilidade” que as idas aos Estados Unidos costumavam ter naquela época.
Novamente, as Eliminatórias para a Copa do Mundo não contaram com nenhuma grande surpresa ou eliminação. Talvez a falta mais sentida tenha sido justamente a de Portugal e Inglaterra, as quais estavam há poucos anos de começar a engrenar suas melhores gerações, mas ainda não a haviam consolidado. Naquele ano, as classificações acabaram definindo três estreantes: Arábia Saudita, Grécia e Nigéria. Os classificados foram:
- África: Camarões, Marrocos e Nigéria;
- América Central e do Norte: Estados Unidos e México;
- América do Sul: Argentina, Bolívia, Brasil e Colômbia;
- Ásia: Arábia Saudita e Coréia do Sul;
- Europa: Alemanha, Bélgica, Bulgária, Espanha, Grécia, Holanda, Itália, Noruega, República da Irlanda, Romênia, Rússia, Suécia e Suíça.
Os grupos e resultados da Copa do Mundo de 1994
O sistema adotado na Copa do Mundo de 1994 foi o mesmo utilizado nas duas edições anteriores do Mundial. Novamente, 24 seleções foram divididas em seis grupos (de A à F) com quatro países cada. Os dois primeiros colocados de cada grupo avançavam diretamente para as Oitavas de Final, enquanto os terceiros colocados participavam de uma repescagem para avançar.
Apesar do sistema ser praticamente o mesmo, algo bastante significativo havia mudado: as pontuações. Até então, a Copa do Mundo funcionava com base na seguinte configuração: derrota = o; empate = 1; e vitória = 2. No entanto, a partir de 1994, as vitórias passaram a somar 3 pontos ao invés de 2.
E como já era de praxe, duas seleções já estavam automaticamente classificadas para a Copa do Mundo de 1994. Na ocasião, foram a Alemanha (que não era mais dividida entre Oriental e Ocidental), campeã da edição passada do Mundial; e o próprio Estados Unidos, país sede.
Sendo assim, os grupos definidos foram os seguintes:
- Grupo A: Romênia, Suíça, Estados Unidos e Colômbia;
- Grupo B: Brasil, Suécia, Rússia e Camarões;
- Grupo C: Alemanha, Espanha, Coréia do Sul e Bolívia;
- Grupo D: Nigéria, Bulgária, Argentina e Grécia;
- Grupo E:México, Itália, República da Irlanda e Noruega;
- Grupo F: Holanda, Arábia Saudita, Bélgica e Marrocos.
Definidos os grupos, os resultados foram os seguintes:
Grupo A
Estados Unidos 1 x 1 Suíça
Colômbia 1 x 3 Romênia
Romênia 1 x 4 Suíça
Estados Unidos 2 x 1 Colômbia
Estados Unidos 0 x 1 Romênia
Suíça 2 x 0 Estados Unidos
Grupo B
Camarões 2 x 2 Suécia
Brasil 2 x 0 Rússia
Brasil 3 x 0 Camarões
Suécia 3 x 1 Rússia
Rússia 6 x 1 Camarões
Brasil 1 x 1 Suécia
Grupo C
Alemanha 1 x 0 Bolívia
Espanha 2 x 2 Coréia do Sul
Alemanha 1 x 1 Espanha
Coréia do Sul 0 x 0 Bolívia
Bolívia 1 x 3 Espanha
Alemanha 3 x 2 Coréia do Sul
Grupo D
Argentina 4 x 0 Grécia
Nigéria 3 x 0 Bulgária
Argentina 2 x 1 Nigéria
Bulgária 4 x 0 Grécia
Grécia 0 x 2 Nigéria
Argentina 0 x 2 Bulgária
Grupo E
Itália 0 x 1 República da Irlanda
Noruega 1 x 0 México
Itália 1 x 0 Noruega
México 2 x 1 República da Irlanda
República da Irlanda 0 x 0 Noruega
Itália 1 x 1 México
Grupo F
Bélgica 1 x 0 Marrocos
Holanda 2 x 1 Arábia Saudita
Bélgica 1 x 0 Holanda
Arábia Saudita 2 x 1 Marrocos
Marrocos 1 x 2 Holanda
Bélgica 0 x 1 Arábia Saudita
Oitavas de Final
Nigéria 1 x 2 Itália
Espanha 3 x 0 Suíça
México 1 x 1 Bulgária (1 x 3 nos pênaltis)
Alemanha 3 x 2 Bélgica
Holanda 2 x 0 República da Irlanda
Brasil 1 x 0 Estados Unidos
Romênia 3 x 2 Argentina
Arábia Saudita 1 x 3 Suécia
Quartas de Final
Itália 2 x 1 Espanha
Bulgária 2 x 1 Alemanha
Holanda 2 x 3 Brasil
Romênia 2 x 2 Suécia (4 x 5 nos pênaltis)
Semifinais
Itália 2 x 1 Bulgária
Brasil 1 x 0 Suécia
Terceiro Lugar
Suécia 4 x 0 Bulgária
Final
Itália 0 x 0 Brasil (2 x 3 nos pênaltis)
O Brasil na Copa do Mundo de 1994
Quem olha para trás hoje em dia e vê o Brasil campeão da Copa do Mundo de 1994, com atuações extremamente convincentes e lances históricos, pode não lembrar de como foi difícil chegar até ali. Isso porque nas Eliminatórias para o Mundial, a seleção canarinho só foi classificada na última rodada, quando o técnico Carlos Alberto Parreira foi obrigado a convocar o baixinho Romário, na época ainda no PSV, que fez os gols da classificação.
Além disso, nos amistosos que antecederam a Copa do Mundo de 1994, o Brasil não foi tão convincente. Tudo isso fez com que a seleção chegasse para a disputar aquele Mundial sob muitas dúvidas e desacreditada. Mas não foi preciso muito tempo de jogo para que toda essa desconfiança fosse para o ralo.
Aos poucos, o Brasil foi conquistando entrosamento e dando indícios de que poderia ser campeão novamente. O elenco também ajudava bastante nesse quesito, afinal, era rodeado de craques e estrelas.
O Brasil contava com Taffarel, ex-Inter, no gol. Na defesa estavam Márcio Santos, também ex-Colorado, e Aldair, ex-Flamengo. Os laterais eram Branco, do Fluminense, e Jorginho, também ex-Mengão. O meio campo da seleção era composto por Mauro Silva, ex-Bragantino, Dunga, ex-Internacional, Mazinho e Zinho, ambos do Palmeiras. A dupla de ataque era histórica: Romário e Bebeto, os quais haviam surgido no Vasco, mas que estavam na Europa. A seleção ainda contava com grandes nomes na reserva, como Raí, ex-São Paulo, Muller, na época ainda no Tricolor, e Ricardo Rocha, do Vasco.
Apesar de não ter ganhado com placares elásticos, o Brasil foi avançando e convencendo na Copa do Mundo. Nas quartas de Final fez o seu melhor jogo, uma vitória excelente em cima da Holanda. Na final, o 0 x 0 levou para os pênaltis. O craque italiano, Baggio, bateu o último pênalti para fora – Brasil tetra campeão.
Artilheiros e curiosidades da Copa do Mundo de 1994
A Copa do Mundo de 1994 terminou com o russo Salenko como artilheiro: 6 gols, ao todo. O atacante, inclusive, quebrou o recorde de número de gols em uma única partida do Mundial: 5, na vitória da Rússia por 6 x 1 em cima de Camarões.
A Copa do Mundo de 1994 foi a primeira decidida em uma cobrança de pênaltis. Outra curiosidade é o fato de que a partida entre Alemanha e Coréia do Sul foi a mais quente das Copas até então, com os termômetros marcando 46º durante o jogo, em função do verão.
O antes e pós-copa também contou com algumas polêmicas. A começar pelo fato de que Maradona, o craque argentino, foi pego no antidoping e acabou sendo expulso da competição. Já o zagueiro colombiano Andrés Escobar foi assassinado na Colômbia por ter marcado um gol contra na partida contra os EUA que resultou na eliminação dos colombianos.