Copa do Mundo de 1958: o primeiro Mundial do Brasil

A Copa do Mundo de 1958 é sem sombra de dúvidas uma das mais marcantes para a torcida brasileira, ao menos historicamente. Afinal de contas, ela marcou não apenas o primeiro título mundial do Brasil, que ainda viria a conquistar a competição mais quatro vezes, como também os primeiros passos internacionais do maior jogador da história.

Quanto mais tempo passava, melhor ficava o cenário para a disputa de uma Copa do Mundo. Afinal de contas, o futebol vinha se profissionalizando cada vez mais ao redor do mundo e os países enxergavam o evento como algo cada vez mais importante, não à toa que os recordes de inscrição para eliminatórias estavam sempre sendo batidos.

Além disso, os impactos da Segunda Guerra Mundial, ao menos aqueles que podem ser reparados, passavam por reparação. Ainda assim, a Grande Guerra teve uma certa influência sobre a Copa do Mundo de 1958. Isso porque o Mundial deste ano foi disputado na Suécia, que havia sido escolhida como palco para o evento justamente por ser um dos países neutros durante o período de conflitos – assim como foi em 1954, com a Suíça.

A seleção brasileira, que já havia batido na trave e chegado longe em edições anteriores, finalmente tirou o atraso da Copa do Mundo. E a conquista foi bonita, com uma excelente campanha e atuações que até hoje são vistas como memoráveis – a ponto de encantar os milhares de espectadores europeus.

O caminho percorrido até a Copa do Mundo de 1958

Já estava definido que a Suécia seria o país sede da Copa do Mundo de 1958, pelos mesmos motivos que a Suíça havia sido em 1954. No entanto, o caminho percorrido até que a nação sueca estivesse pronta para sediar o maior evento esportivo do mundo foi um tanto quanto longo.

No planejamento da Federação Internacional de Futebol (FIFA), a Copa do Mundo de 1958 seria realizada em 12 cidades diferentes da Suécia. O país, então, teve que correr para construir estádios novos que dessem conta do recado ou, pelo menos, reformar os já existentes para que estivessem aptos pra competição.

Para as Eliminatórias, mais uma surpresa: o número de inscritos, que cresceu consideravelmente desde a última edição. Ao todo, 55 seleções se inscreveram para participar das disputas por vagas na Copa do Mundo, mas alguns acabaram desistindo durante o caminho.

Outra novidade estava prestes a marcar o Mundial daquele ano: seria a primeira Copa do Mundo transmitida pela televisão. Isso significa que boa parte do do mundo poderia acompanhar as partidas disputadas na Suécia, ainda que não com a mesma qualidade que acompanhamos nos dias de hoje.

O resultado das Eliminatórias da Copa do Mundo de 1958

Com recorde de inscritos mais uma vez, as Eliminatórias da Copa do Mundo de 1958 foram marcadas não apenas por desistências como, também, por grandes surpresas. Isso porque seleções de tradição acabaram ficando de fora da edição do Mundial, dando espaço até mesmo para alguns estreantes.

Por fim, 55 inscritos competiram pelas 14 vagas disponíveis da Copa do Mundo. Suécia, país sede do Mundial, e Alemanha Ocidental, a campeã da edição anterior, já estavam automaticamente classificadas. Nesse processo, algumas acabaram desistindo, a exemplo de Venezuela, Turquia e Chipre.

Não foram poucas as grandes seleções que caíram ainda nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1958. Bélgica, Espanha, Holanda, Suíça, Uruguai e Itália foram as desclassificadas mais sentidas pelos amantes do futebol – afinal de contas, tratavam-se de duas bicampeãs mundiais e quatro equipes de tradição na competição.

Em contrapartida, algumas seleções fizeram sua estreia no maior torneio de futebol do mundo naquele ano. Foi o caso do País de Gales, Irlanda do Norte e União Soviética – que inclusive havia conquistado os Jogos Olímpicos de Melbourne, na Austrália, dois anos antes (em 1956).

Finalizadas as Eliminatórias, foram definidos os classificados para a Copa. Ao todo, foram 12 países da Europa (Alemanha Ocidental, Áustria, França, Hungria, Inglaterra, Irlanda do Norte, Iugoslávia, País de Gales, Suécia, Tchecoslováquia e União Soviética); três da América do Sul (Argentina, Brasil e Paraguai) e um da América do Norte (México).

Os jogos e resultados da Copa do Mundo de 1958

Na Copa do Mundo de 1958, o esquema de cabeças de chave para apenas duas partidas por grupo havia caído. Depois de muitas críticas por parte da imprensa e do público, a competição voltou ao esquema tradicional: quatro grupos com 4 seleções, em que as duas primeiras avançam para o mata-mata até a Final. Naquele ano, os grupos foram os seguintes:

  • Grupo 1 – Alemanha Ocidental, Irlanda do Norte, Tchecoslováquia e Argentina
  • Grupo 2 – França, Iugoslávia, Paraguai e Escócia
  • Grupo 3 – Suécia, País de Gales, Hungria e México
  • Grupo 4 – Brasil, União Soviética, Inglaterra e Áustria

Os resultados da primeira fase foram os seguintes:

Grupo 1

Argentina 1 x 3 Alemanha Ocidental
Irlanda do Norte 1 x 0 Tchecoslováquia
Argentina 3 x 1 Irlanda do Norte
Alemanha Ocidental 2 x Tchecoslováquia
Tchecoslováquia 6 x 1 Argentina
Alemanha Ocidental 2 x 2 Irlanda do Norte

Grupo 2

Iugoslávia 1 x 1 Escócia
França 7 x 3 Paraguai
Iugoslávia 3 x 2 França
Paraguai 3 x 2 Escócia
Paraguai 3 x 3 Iugoslávia
França 2 x 1 Escócia

Grupo 3

Suécia 3 x 0 México
Hungria 1 x 1 País de Gales (1 x 2 em jogo de desempate)
México 1 x 1 País de Gales
Suécia 2 x 1 Hungria
Suécia 0 x 0 País de Gales
Hungria 4 x 0 México

Grupo 4

União Soviética 1 x 1 Inglaterra (1 x 0 em jogo de desempate)
Brasil 3 x 0 Áustria
União Soviética 2 x 0 Áustria
Brasil 0 x 0 Inglaterra
Brasil 2 x 0 União Soviética
Inglaterra 2 x 2 Áustria

Quartas de Final

Alemanha 1 x 0 Iugoslávia
Brasil 1 x 0 País de Gales
França 4 x 0 Irlanda do Norte
Suécia 2 x 0 União Soviética

Semifinais

Brasil 5 x 2 França
Suécia 3 x 1 Alemanha Ocidental

Terceiro Lugar

França 6 x 3 Alemanha Ocidental

Final

Brasil 5 x 2 Suécia

O Brasil na Copa do Mundo de 1958

A trajetória do Brasil na Copa do Mundo de 1958 foi impecável, com praticamente 100% de aproveitamento. Depois de tanto bater na trave no torneio, a seleção canarinho finalmente conseguiu conquistar o primeiro Mundial da sua história no futebol. E isso graças a um elenco recheado de craques, que ainda brilhariam muito nas edições seguintes.

A começar pelo fato de que a Copa daquele ano foi a primeira em que a CBD realmente se planejou para vencer. Com uma equipe escolhida criteriosamente, a seleção viajou com antecedência a Europa e ainda realizou dois amistosos na Itália antes de chegar na Suécia para o Mundial.

Dois dos maiores jogadores da história do Brasil e do mundo estavam naquela seleção: Pelé, o Rei do Futebol, maior jogador de todos os tempos, tinha apenas 17 anos de idade, mas foi crucial para a campanha brasileira; o mesmo vale para Garrincha, na época com quase 25 anos, que também carimbou o seu nome.

Apesar de um garoto, Pelé foi o vice-artilheiro da Copa do Mundo daquele ano. Ao todo, foram 6 gols anotados: 1 contra País de Gales (que ajudou o Brasil a avançar de fase); 3 contra a França e 2 contra a Suécia.

O elenco vitorioso do Brasil de 1958 também contava com outros grandes craques brasileiros, a exemplo de De Sordi, do São Paulo, Djalma Santos, da Portuguesa, Mazzola, do Palmeiras, e Dida, do Flamengo.

Curiosidades da Copa do Mundo de 1958

A Copa do Mundo de 1958 também foi marcada por algumas curiosidades. A mais triste delas envolve a Inglaterra, eliminada ainda na fase de grupos, que disputou o torneio de luto. Isso porque meses antes, em fevereiro, ocorreu um acidente envolvendo o avião que transportava o elenco do Manchester United – entre eles, três jogadores da seleção.

O gol de Pelé contra País de Gales, um verdadeiro gol de placa, fez com que ele se tornasse o jogador mais jovem a marcar em uma Copa do Mundo na época. Ele tinha apenas 17 anos e 239 dias.

O gesto de erguer a taça sobre a cabeça nasceu naquela Copa do Mundo, quase por um acaso. Na hora da euforia, todos queriam fotografar o troféu. Foi então que Bellini o ergueu para cima, para facilitar o trabalho dos fotógrafos. O gesto ficou eternizado, sendo repetido edição após edição desde então.

Outra triste curiosidade envolvendo a Copa do Mundo daquele ano é o fato de que o grande incentivador do Mundial, Jules Rimet, não pode acompanhá-la. O francês, que é considerado o “Pai da Copa do Mundo”, faleceu em 1956.