Copa do Mundo de 1954: o primeiro triunfo alemão pós-Guerra

A Copa do Mundo de 1954 surgiu em um bom período para a competição, que voltava a ter um status importante depois da retomada pós-Segunda Guerra Mundial, em 1950. O evento esportivo, que na edição anterior teve que acontecer no Brasil por conta da destruição causada pelos confrontos na Europa, finalmente voltava ao solo europeu.

A Suíça foi a escolhida para sediar a Copa do Mundo de 1954 – e isso não aconteceu por acaso. O primeiro motivo para a escolha foi o fato de que o país havia ficado neutro durante os anos de Segunda Guerra Mundial e, por isso, não houveram destruições e conflitos em seu território, ao contrário de outras potências europeias.

Além disso, naquele ano a Federação Internacional de Futebol (FIFA) estava completando 50 anos de existência. Sendo assim, não havia maneira melhor de comemorar a data se não trazer a Copa do Mundo para a sede da instituição, que havia se mudado para a Suíça justamente por conta da neutralidade na Guerra.

O Mundial de 1954 foi marcado não apenas por recordes como, também, pela retomada do padrão tradicional da competição. O esquema de confrontos entre todos em uma única rodada final havia sido abandonado e, novamente, a competição teve uma verdadeira final.

O caminho percorrido até a Copa do Mundo de 1954

A Copa do Mundo de 1954 foi realizada nove anos depois do término da Segunda Guerra Mundial. Na época, muitos países europeus já estavam avançando no processo de reconstrução, graças aos danos causados pelos conflitos, e por mais que nem todos tivessem capacidade de sediar o Mundial, certamente poderiam comparecer.

Além disso, a Suíça já havia sido escolhida para sediar a Copa do Mundo de 1954 há anos. Em 1946, durante um congresso, a FIFA determinou que o país seria palco do evento, graças a todos os motivos citados anteriormente, o que acabou se consolidando de fato.

Aquela seria a primeira Copa do Mundo a contar com cobertura da televisão. Isso, obviamente, garantiria um incremento financeiro para a competição. Além disso, naquela altura, o futebol já havia dado passos importantes na profissionalização ao redor do mundo, com ligas cada vez mais consolidadas na Europa e nas Américas.

Esse sentimento de valorização do futebol, comemoração do aniversário da FIFA e incremento financeiro fez com que diversos países se interessassem pela competição. Não é atoa que foi batido o recorde de inscritos para as Eliminatórias da Copa do Mundo de 1954 – o esporte havia voltado com tudo.

Os resultados das Eliminatórias da Copa do Mundo de 1954

Após a situação precária de 1950, que fez com que a Copa do Mundo daquele ano tivesse somente 13 participantes, tudo voltou ao normal. O Mundial de 1954 iria acontecer com 16 equipes, e 38 seleções se mostraram interessadas e se inscreveram para concorrer às 14 vagas disponíveis para a competição.
Tanto o Uruguai, que havia sido campeão na edição anterior, quanto a Suíça, país sede da competição, estavam automaticamente classificados para a Copa do Mundo de 1954. A Argentina novamente não se inscreveu para o evento, e índia, Peru, Vietnã, Bolívia, Costa Rica, Cuba e Islândia não puderam participar das eliminatórias em virtude da deficiência dos correios, que atrasou as inscrições das seleções.

Nas Eliminatórias, duas grandes potências da Europa acabaram ficando caindo: Espanha e Suécia. A primeira, depois de uma vitória, uma derrota e um empate contra a Turquia, caiu em um sorteio que definiu que os turcos iriam para a Copa do Mundo. A segunda, perdeu para a Bélgica.

Com os classificados definidos, veio um novo formato para a Copa do Mundo de 1954. Cada um dos quatro grupos do Mundial iria contar com duas seleções cabeças de chave, as quais não se enfrentavam, assim como as duas outras seleções do grupo. Com isso, ao invés de três jogos, os países fariam somente dois no primeiro turno.

Os grupos e jogos da Copa do Mundo de 1954

A lista de 16 participantes estava fechada, e os cabeças de chave foram definidos com base no Ranking da FIFA da época. Sendo assim, tivemos: Brasil e França (Grupo 1), Hungria e Turquia (Grupo 2), Áustria e Uruguai (Grupo 3) e Inglaterra e Suíça (Grupo 4). No sorteio, os grupos foram:

  • Grupo 1: Brasil, Iugoslávia, França e México;
  • Grupo 2: Hungria, Alemanha Ocidental, Turquia e Coreia do Sul;
  • Grupo 3: Uruguai, Áustria, Tchecoslováquia e Escócia;
  • Grupo 4: Suíça, Inglaterra, Itália e Bélgica.

A fase mata-mata da Copa do Mundo de 1954 voltou a ter o formato padrão (apesar dos cabeças de chave). Os dois primeiros colocados de cada grupo avançavam de fase e faziam confrontos únicos e chaveados até chegar à final. Os resultados foram os seguintes:

Grupo 1

Iugoslávia 1 x 0 França
Brasil 5 x 0 México
Brasil 1 x 1 Iugoslávia
França 3 x 2 México

Grupo 2

Alemanha Ocidental 7 x 2 Turquia (4 x 1 em um segundo jogo)
Hungria 9 x 0 Coréia do Sul
Hungria 8 x 3 Alemanha Ocidental
Turquia 7 x 0 Coréia do Sul

Grupo 3

Áustria 1 x 0 Escócia
Uruguai 2 x 0 Tchecoslováquia
Uruguai 7 x 0 Escócia
Áustria 5 x 0 Tchecoslováquia

Grupo 4

Suíça 2 x 1 Itália (4 x 1 em um segundo jogo)
Inglaterra 4 x 4 Bélgica
Itália 4 x 1 Bélgica
Inglaterra 2 x 0 Suíça

Quartas de Final

Alemanha Ocidental 2 x 0 Iugoslávia
Áustria 7 x 5 Suíça
Hungria 4 x 2 Brasil
Uruguai 4 x 2 Inglaterra

Semifinais

Alemanha Ocidental 6 x 1 Áustria
Hungria 4 x 2 Uruguai

Terceiro Lugar

Áustria 3 x 1 Uruguai

Final

Alemanha Ocidental 3 x 2 Hungria

O Brasil na Copa do Mundo de 1954

A Copa do Mundo de 1954 foi a primeira em que o Brasil disputou com a tradicional camisa amarela e calção azul. A amarelinha, no entanto, não trouxe tanta sorte para os brasileiros: que acabaram caindo nas Quartas de Final para a Hungria (uma das mais fortes seleções daquela edição do Mundial).

Naquela edição, o técnico Zezé Moreira convocou 11 jogadores cariocas e 11 paulistas. Entre os destaques daquela seleção estavam Djalma Santos, ídolo absoluto do Palmeiras; Mauro, jogador que brilhou no São Paulo na década de 50; e Baltazar, na época, atleta do Corinthians.

Curiosidades da Copa do Mundo de 1954

A Copa do Mundo de 1954 teve a maior média de gols da história dos mundiais. Foram 140 gols marcados em apenas 26 jogos, estabelecendo uma média de 5,4 gols por jogo. Não à toa, naquele ano houve também o maior artilheiro de uma única edição: Kocsis, da Hungria, que marcou 11 vezes – mas foi superado poucos anos depois.

A primeira partida daquele Mundial, entre Iugoslávia e França, foi a primeira a ter transmissão direta pela TV. Os jogadores, então, passaram a usar números fixos nas costas para facilitar a leitura e entendimento dos telespectadores.

A Alemanha venceu o torneio depois de ter ficado de fora da edição anterior, como boicote às ações nazistas durante a Guerra. O capitão da seleção campeã, Fritz Walter, inclusive, foi paraquedista do exército de Hitler.