Copa do Mundo de 1950: o primeiro Mundial pós Segunda Guerra

Doze anos separam a terceira da quarta edição do Mundial de seleções. Se em 1938 os países que disputaram a competição já viviam a tensão de um grande conflito, em 1939 a invasão à Polônia decretou de vez o início da Segunda Guerra Mundial e a suspensão da Copa do Mundo, que só voltaria a ser realizada em 1950.

A Copa do Mundo de 1950 foi realizada no Brasil que, durante os anos de conflitos concentrados na Europa, acabou se profissionalizando ainda mais no esporte. Além disso, a escolha do país para sediar a competição foi quase como uma salvação para o Mundial de seleções, que estava ameaçado mais uma vez de não ocorrer.

Apesar de todo o planejamento, a Copa do Mundo de 1950 foi marcada por uma série de desistências e mudanças no formato da competição. O clima na Europa ainda era de recuperação, e uma série de outros motivos fez com que o Mundial tivesse o menor número de participantes desde a sua primeira edição: 13, ao todo.

O caminho percorrido até a Copa do Mundo de 1950

Com a Segunda Guerra Mundial acontecendo, as edições de 1942 e 1946 da Copa do Mundo acabaram sendo canceladas. Com o fim dos conflitos, a FIFA (Federação Internacional de Futebol) iniciou os preparativos para retomar a competição, mas tinha como obstáculo o terrível cenário em que a Europa se encontrava.

Ainda durante a Segunda Guerra, o presidente da FIFA, Jules Rimet, transferiu a sede da entidade da França para a Suíça, sabendo do interesse de Hitler no território francês e na neutralidade dos suíços. Quando começou a planejar uma nova edição do Mundial, Rimet percebeu que os países europeus não viam clima para a realização do evento. Além disso, não queriam gastar recursos com a competição.

Foi então que em 1946, durante o Congresso da FIFA em Luxemburgo, que o Brasil se colocou à disposição para ser o país sede da Copa do Mundo. Os brasileiros, no entanto, exigiam uma condição: que o evento fosse realizado em 1950, e não em 1949, como inicialmente desejava a Federação.

Batido o martelo, ficou decretado que a Copa do Mundo de 1950 iria ser realizada no Brasil. A edição também marcou algumas alterações, como a mudança do nome para Taça Jules Rimet (em homenagem ao presidente da FIFA), e um formato diferente: 16 seleções divididas em quatro grupos e uma fase final em que todos se enfrentam. No entanto, a desistência de seleções acabou alterando os planos.

Cartaz oficial de divulgação da Copa do Mundo de 1950

As Eliminatórias e desistências da Copa do Mundo de 1950

O processo classificatório para a Copa do Mundo de 1950 foi um verdadeiro caos, ao menos em termos de organização. Assim como na última edição, Itália (vencedora do Mundial de 38) e Brasil (país sede) já estavam classificados para a competição, que seria completada com mais 14 times.

Ao todo, 33 países se inscreveram para participar das eliminatórias e concorrer a uma vaga na Copa do Mundo. No entanto, aos poucos, várias seleções foram desistindo. A Escócia, que tinha ficado com uma das vagas das nações britânicas, desistiu. O mesmo fez a Turquia, depois de já ter se classificado.

A Índia, que também iria ao Mundial, não foi aceita pela UEFA pelo fato de seus atletas jogarem descalços. Com isso, Portugal e França foram convidados para cobrir as vagas restantes, mas também acabaram não aceitando. Os franceses se recusaram a viajar tanto para jogar, enquanto os portugueses seguiram o mesmo caminho.

Além disso, por questões políticas, a Alemanha não foi autorizada a participar do evento e ficou de fora. Já o Japão, que estava sob ocupação, também acabou fora da Copa do Mundo de 1950. Com isso, o torneio acabou tendo somente 13 participantes, sendo eles:

  • América Central e do Norte: Estados Unidos e México;
  • América do Sul: Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai;
  • Europa: Espanha, Inglaterra, Itália, Iugoslávia, Suécia e Suíça.

Os grupos e jogos da Copa do Mundo de 1950

O fato de contar com 13 seleções fez com que a Copa do Mundo de 1950 tivesse grupos irregulares, não iguais. A divisão, então, ficou da seguinte forma:

  • Grupo 1: Brasil, Iugoslávia, Suíça e México
  • Grupo 2: Espanha, Inglaterra, Chile e Estados Unidos
  • Grupo 3: Suécia, Itália e Paraguai
  • Grupo 4: Uruguai e Bolívia

Os primeiros colocados de cada grupo avançavam e se enfrentavam em uma única fase final, em que o que mais pontuasse seria declarado campeão. Os resultados foram os seguintes:

Oitavas de Final (Fase de Grupos)

Brasil 4 x 0 México
Iugoslávia 3 x 0 Suíça
Brasil 2 x 2 Suíça
Iugoslávia 4 x 1 México
Brasil 2 x 0 Iugoslávia
Suíça 2 x 1 México

Suécia 3 x 2 Itália
Suécia 2 x 2 Paraguai
Itália 2 x 0 Paraguai

Uruguai 8 x 0 Bolívia

Espanha 2 x 0 Chile
Estados Unidos 1 x 0 Inglaterra
Espanha 1 x 0 Inglaterra
Chile 5 x 2 Estados Unidos
Inglaterra 2 x 0 Chile
Espanha 3 x 1 Estados Unidos

Semifinais

Uruguai 2 x 2 Espanha
Brasil 7 x 1 Suécia
Brasil 6 x 1 Espanha
Uruguai 3 x 2 Suécia
Suécia 3 x 1 Espanha
Uruguai 2 x 1 Brasil

Final

Uruguai (campeão)
Brasil (segundo colocado)
Suécia (terceiro colocado)
Espanha (quarto colocado)

O Brasil na Copa do Mundo de 1950

Pela primeira vez na história, o Brasil sediou uma Copa do Mundo – feito que iria se repetir em 2014. Com um elenco muito mais forte e uma campanha excepcional na edição anterior, os brasileiros chegavam para o Mundial como fortes candidatos ao título e, novamente, acabaram batendo na trave.

Seleção brasileira na partida contra o México

A seleção brasileira foi bem na fase de grupos e, nos confrontos finais, aplicou duas goleadas históricas: 7 a 1 na Suécia e 6 a 1 na Espanha. No entanto, a derrota para os uruguaios fez com que os brasileiros perdessem um ponto importante e acabassem garantindo a segunda colocação. O Uruguai, por sua vez, se igualava à Itália como bicampeão mundial.

A Copa do Mundo de 1950 teve como artilheiro um brasileiro, mais uma vez. Foi o caso de Ademir, carioca ídolo do Vasco da Gama que anotou oito vezes naquela competição: duas contra o México, uma contra a Iugoslávia, quatro contra a Suécia e uma contra a Espanha.

O elenco de 1950 da seleção brasileira ainda contava com outros grandes jogadores como, por exemplo, Noronha (do São Paulo) e Adãozinho (do Internacional). O técnico era Flávio Costa.

Curiosidades da Copa do Mundo de 1950

A Copa do Mundo de 1950 foi palco de alguns recordes, curiosidades e marcas interessantes. A começar pelo fato de que foi a única edição do Mundial que não teve uma final oficial, sendo disputada em pontos por quatro times.

Além disso, com as desistências de França, Bélgica e Romênia, o Brasil se tornou a única equipe a ir a todas as Copas do Mundo – título que mantém até os dias de hoje. Em um jogo entre México e Suíça, ambos os times tinham camisas vermelhas e, por isso, os mexicanos acabaram jogando com o uniforme azul do Cruzeiro de Porto Alegre.

E para finalizar, a primeira participação da Inglaterra na Copa do Mundo foi um verdadeiro vexame, com uma derrota por 1 a 0 para os Estados Unidos que, naquela época, era inteiramente formada por imigrantes. A zebra foi tanta que um jornal inglês chegou a estampar o placar de 10 x 1 a favor da Inglaterra na capa, acreditando que o resultado era, na verdade, um erro do telégrafo.