Perdemos neste sábado (21), aos 86 anos, uma grande lenda do futebol inglês: Sir Bobby Charlton. Ele foi o último sobrevivente do desastre aéreo de Munique em 1958, onde perdeu muitos de seus companheiros de equipe e viveu grande parte de sua vida assombrado pelas lembranças desse fatídico dia.
No âmbito de uma entrevista durante a final da Liga dos Campeões de 1998, Charlton lembrou como a dor ainda estava viva 40 anos após o acidente. Revelou que pensava sobre o ocorrido todos os dias, mesmo casualmente, trazendo uma sensação de arrependimento, tristeza e culpa, por ter sobrevivido enquanto seus amigos não tiveram a mesma sorte.
A Ascensão e Queda dos Busby Babes
Naquela época, a equipe do Manchester United, apelidada de “Busby Babes”, estava a caminho de se tornar uma das maiores da Europa. Eram uma geração jovem e dourada, treinada pelo icônico Matt Busby. Charlton, Taylor, Jones, Colman, Pegg, Whelan, Bent, Byrne e Edwards, foram alguns dos jogadores que infelizmente perderam suas vidas naquela tragédia.
No dia 6 de fevereiro de 1958, após saírem de Belgrado, onde haviam garantido a vaga para as semifinais da Copa da Europa, os Red Devils fizeram escala em Munique para reabastecer o avião. A neve, infelizmente, complicou a operação. O avião tentou decolar duas vezes sem sucesso e na terceira acabou colidindo contra uma casa e um depósito de combustível, provocando um incêndio. Dos 44 ocupantes do avião, 23 perderam suas vidas.
A Resiliência de Charlton
Charlton, de 20 anos, sobreviveu à tragédia com queimaduras leves e 15 dias após o acidente, já estava de volta aos gramados, durante as quartas de final da Copa da Inglaterra. Porém, o United teve dificuldades em voltar ao seu antigo desempenho, vencendo apenas uma das 14 partidas do campeonato após o desastre de Munique, e foi eliminado nas semifinais da Liga das Campeões pelo Milan.
“De repente, todos os meus amigos desapareceram”, Charlton explicou na websérie “History of Football”, de 2001. “Eu estava jogando em um time que tinha o mundo inteiro a seus pés. E, de repente, você tem que voltar lutando para sobreviver. Foi um período muito traumático para o clube”.
O Renascimento do Futebol Inglês
Nos anos seguintes, a tragédia de Munique mudou totalmente a vida de Charlton. Sua atitude em campo mudou, passou a assumir mais responsabilidades e sua estreia na seleção dos Três Leões aconteceu em 19 de abril de 1958.
Além disso, Charlton marcou seu nome no futebol mundial ao se tornar campeão mundial com a Inglaterra em 1966 e ganhou a Bola de Ouro. Apesar do trauma e da dor, Charlton mostrou a todos a força da resiliência e da superação, e deixou um grande legado para o futebol inglês e mundial.