A jornalista Ana Thaís Matos, célebre por marcar a história como a primeira mulher a comentar um jogo de futebol na TV Globo, comemora sua participação na sua terceira Copa do Mundo em 2023. Seu trabalho pioneiro estabeleceu um precedente que abriu portas para mais mulheres no jornalismo esportivo, uma área antes dominada por homens.
“O que construí na Globo me afeta pelos lados individual e coletivo. Em 2019, eu era a única comentarista. A Nadja (Mauad), uma grande repórter, foi improvisada como comentarista. Agora, vejo vitórias coletivas: teremos a Renata Mendonça, a Renata Silveira, a Denise Bastos, a Natália Lara; a Isabely Morais; a Gabi Moreira”, relata Ana Thaís Matos.
A jornalista analisa o próprio trabalho e o impacto que ele teve. “É um processo que começou sem sabermos o que vinha pela frente. É uma vitória minha, porque pavimentei esse caminho. Fico muito feliz com o momento que estamos vivendo”, revela. Embora tenha alcançado muito sucesso e respeito em sua carreira, ela enfatiza que o machismo no ambiente de trabalho ainda existe.
LINCHAMENTO VIRTUAL
Ana Thaís Matos também comenta a visibilidade e, muitas vezes, a hostilidade enfrentadas pelas narradoras de futebol. “Há muito hater para quem está na opinião ainda. Esse papel nos foi negado por muito tempo. É um lugar onde o homem consumidor de futebol desautoriza a mulher. ‘Como uma mulher está falando que meu time não é o favorito? E a narração tem a questão técnica. Por muito tempo, só ouvimos homens”, diz Ana Thaís.
A internet é um lugar onde as opiniões são facilmente expressas e Ana Thaís Matos revela que esses comentários já afetaram o modo como ela trabalha. “Os homens tinham mais entradas e falavam por mais tempo. Percebi que era a minha voz que incomodava”, conta a jornalista.
Os comentários negativos nas redes sociais foram tão extremos que ela desenvolveu crises de ansiedade. “Tive crise de pânico, ansiedade, meu cabelo e minha sobrancelha caíram. A terapia me ajudou muito. Ainda tenho um pouco de ansiedade. Nunca mais fui a mesma pessoa”, revelou Ana Thaís Matos, destacando as consequências do assédio online nos âmbitos personal e profissional.