Na era do “raiz” e “nutella”, o jogador de futebol que entra em campo com uma chuteira preta pode ser considerado “raiz”. Isso porque o que antes era muito comum, quase uma regra no futebol – obviamente devido às limitações tecnológicas de anos atrás, hoje em dia é difícil de ser encontrado. Praticamente todos os jogadores atuam com chuteiras coloridas. E bota coloridas nisso. Tem chuteira verde neon, laranja, dourada, prateada, enfim, há disponíveis no mercado modelos de vários tons de diversas cores.
Pois é, o futebol mudou e a moda esportiva também. Mas quando essa moda do calçados brancos ou multicoloridos começou a pegar? Mergulhamos nos arquivos da revista para traçar esta linha do tempo.
O primeiro jogador a ousar abandonar as chuteiras pretas foi o britânico Alan Ball, meia com passagens por Everton e Arsenal e campeão mundial pela seleção inglesa em 1966. Em 1970, atuando pela equipe de Liverpool, ele se tornou o garoto-propaganda da marca alemã Hummel, que queria causar impacto no mercado inglês – e conseguiu com o lançamento da inédita chuteira branca.
Ball estreou o item no mesmo dia em que, como capitão do Everton, ergueu o troféu da Supercopa da Inglaterra em decisão contra o Chelsea, em pleno Stamford Bridge. O golpe de marketing foi imediato e as vendas da chuteira explodiram no Reino Unido. Na década de 70, alguns outros atletas ousaram repetir a ousadia de Ball.
Quem foi o pioneiro das chuteiras coloridas no Brasil?
No Brasil, dois irreverentes goleadores foram os primeiros a abandonar as tradicionais chuteiras pretas. Em seus primeiros anos como atacante do Corinthians, Walter Casagrande Júnior, hoje comentarista da Globo, surpreendeu ao aparecer em campo com uma chuteira branca da marca Puma. Na época, já se iniciava uma “guerra” neste mercado, com a também alemã Adidas e a brasileira Topper como principais concorrentes, conforme mostra reportagem de PLACAR de 1982.
Até então, apenas chuteiras brancas apareciam como alternativa. Eis que Serginho Chulapa, então no Santos, chocou os torcedores com uma chuteira vermelha da marca americana Pony, que lhe pagava uma boa quantia pela ousadia.
A década de 80, portanto, registrou os primeiros casos de “atrevimento” no figuro do futebol brasileiro. Anos mais tarde, outros “malucos-beleza” da bola como Viola e Dinei também seguiriam desfilando chuteiras multicoloridas, mas a moda demorou a engrenar no Brasil. A maioria das chuteiras já contava com detalhes em outras cores além do branco, mas quase sempre mantinham sua predominância preta.