O que você faria pelo seu clube do coração? Fabiane Pizo Menezes decidiu se tornar presidente do clube que ama e foi além. Após 12 anos comandando o modesto Tupã Futebol Clube, que disputa a quarta e última divisão do Campeonato Paulista. Sem nenhum patrocinador, ela tira do próprio bolso recursos para manter o time. E também desempenha outras funções, supervisionando a cozinha, fazendo compras para o dia a dia, registrando a documentação de atletas e qualquer outra tarefa que aparecer.
Em 87 anos de existência, o Tupã nunca disputou a primeira divisão do Campeonato Paulista. O clube conquistou apenas um acesso em quase nove décadas no futebol, justamente sob a gestão de Fabiane. Em 2013, o time ganhou o direito de disputar a Série A3 do estadual. Dois anos depois, porém, acabou retornando para a última divisão paulista.
É justamente o amor pelo esporte e pelo Tupã que mantém Fabiane na presidência do clube, que se prepara para mais uma disputa da quarta divisão do Campeonato Paulista, com início previsto para o dia 22 de abril.
Eleita no fim de 2010, Fabiane assumiu o clube efetivamente no início do ano seguinte. Desde então, venceu outras quatro eleições e se prepara para ocupar a presidência pelo menos até o fim de 2026.
São quase 40 jogadores, além de outros funcionários, que comem diariamente no clube. Por isso, todos os dias a própria presidente vai ao mercado fazer as compras necessárias para a manutenção do cardápio. Ela, inclusive, também costuma almoçar no local.
E essa não é a única função de Fabiane no clube. A presidente também faz a documentação de todos os jogadores, organiza o dia a dia para os treinamentos, como a locação de campos e transporte, além de já ter cozinhado e até lavado o vestiário dos árbitros.
“A parte administrativa e a parte de documentos sou eu que faço, desde a papelada da base até do profissional são de minha execução. Eu entro no sistema, mexo nos sistemas da CBF e da Federação Paulista, vejo os laudos de vencimento para entrar em contato com prefeito, secretário para renovar os laudos. Toda a parte administrativa é minha. Em dias de jogos, eu que contrato, faço credenciamento de atletas, de todas as pessoas que trabalham nos jogos. Eu tinha funcionários que faziam isso, alguns deixaram a desejar, não gosto de refazer trabalho. Não gosto de corrigir aquilo que já fiz, não posso errar. Se for para pagar pelo erro de alguém, prefiro errar sozinha, aprender e colocar a mão na massa”, explicou Fabiane.
A luta diária da presidente: sem patrocínio e com salário de até R$ 2 mil
A realidade do Tupã é muito diferente daquela que costumamos acompanhar nos grandes clubes do futebol brasileiro. Na quarta divisão do Campeonato Paulista, nenhum dos participantes possui direito a qualquer cota de televisão ou ajuda da Federação Paulista de Futebol na primeira fase.
Com isso, a manutenção do clube depende essencialmente de patrocinadores. A um mês do início da competição, o Tupã ainda busca o seu primeiro parceiro. O clube conta com várias empresas que trocam a divulgação da marca por serviços, sem colocar dinheiro.
Além disso, o Tupã atualmente possui 30% da renda penhorada para o pagamento de dívidas trabalhistas, além de outros 5% por débitos com a prefeitura municipal. Ou seja, a receita com bilheteria é comprometida.
Diante de todo esse contexto, é do bolso de Fabiane e da família que sai o dinheiro para a manutenção do Tupã. Desde que assumiu a presidência, em 2011, ela calcula ter investido mais de R$ 1 milhão.
Ex-proprietária de uma rede de lotéricas, Fabiane e o marido venderam os negócios para se dedicarem totalmente ao Tupã. Nascida na cidade, a presidente morava em São Paulo até 2017, quando resolveu viver o dia a dia e deixar de presidir o clube à distância.
“Acho que passa de R$ 1 milhão, colocamos bastante dinheiro no ano do acesso. Não sei se é arrependimento, porque se fosse já teria parado. Acredito que, quando você monta um negócio e ele não dá um retorno imediato, talvez seja Deus dizendo para insistirmos que os frutos vão aparecer lá na frente”, comentou Fabiane.
As finanças do Tupã para a disputa da 4ª divisão de São Paulo em 2023:
Folha salarial em 2023: entre R$ 35 mil e R$ 40 mil/mensais
Média salarial: R$ 1.380,60 (salário mínimo)
Maior salário do elenco: R$ 2 mil
Receita de patrocinadores: R$ 0
Receita com cotas de televisão/Federação: R$ 0